Depois
de uma temporada cheia de erros tanto na vida profissional quanto na pessoal,
eis que Christina Aguilera, depois de muita publicidade conseguida através do
The Voice, lança um novo álbum de inéditas. A proposta de Lotus é um
renascimento da cantora, uma rejuvenescida necessária para que Christina
conseguisse manter o posto como uma das maiores popstars da indústria e não só
como uma jurada de reality show.
Mas nem
só de tristezas é feito o álbum. Apesar das já clássicas baladas, há músicas divertidas,
despreocupadas, dançantes e ultrajantes de uma maneira boa. O conceito de “flor
inquebrável” me parece um pouco forçado e tosco, mas a gente releva, até
porque é difícil ver um álbum inteiro que seja consistente do início ao fim e
gire em torno de um único conceito.
É
perceptível como Christina teve a preocupação de “se encaixar nos padrões” com
esse álbum, baseado em todas as questões de produção, não só das músicas como
das imagens. Ela finalmente se rendeu ao poder de Max Martin, convidou Melina
Matsoukas para dirigir seu primeiro videoclipe, pintou o cabelo com mechas
coloridas (sério, por que todas as cantoras pop resolveram fazer isso do nada?)
e, naturalmente, convidou seus parceiros de The Voice para cantarem com ela
(bem melhor que Nicki Minaj, né). E, sem querer especular muito, mas eu até
senti uma vibe meio “Loud” com o
encarte do CD e aquele rosa todo.
Comparações
e adaptações de lado, Lotus é um dos melhores, maiores e mais aguardados lançamentos
de 2012. Se não conseguir um #1 com singles, pelo menos com o álbum Christina
consegue, o que já é um avanço do último álbum pra cá. Aos poucos, ela consegue
se reestabelecer no pódio ao qual pertence, basta se mexer um pouquinho mais e
divulgar o trabalho. Uma turnê seria perfeita pra isso, principalmente se
passasse pelo Brasil, hein?
Review
das músicas separadas aqui embaixo, com as preferidas marcadas:
Lotus: uma intro calma, exponencial, como se algo realmente
fosse surgindo com a música. “This is the
beggining” do álbum e de uma nova era de esperanças pra Christina. Com um "I
leave the past behind", ela esquece os flops do passado e os problemas
pessoais para começar uma nova era.
*Army Of Me: a Fighter 2.0 da nova fase de Christina. Com
uma batida forte e muita autoconfiança, dá até pra imaginar ela marchando
enquanto canta essa música que, ao contrário de Cease Fire, é repleta de amargura e raiva. Aqui os gritos são
benvindos e, quando ela resolve diminuir o tom no final e dar um toque mais
sensível aos versos - a voz falhando em "now
that I'm stronger, now that I'm wiser, now that I'm a fighter" -, a
música se torna perfeita. Seria um single perfeito, considerando que hinos de
superação como esse fazem sucesso desde sempre.
*Red Hot Kinda Love: divertida,
dançante e safadinha sem forçar a barra. Xtina vai declarando seu amor e seus
~~desejos~~ acompanhada de
sintetizadores, gemidos e uns barulhos que parecem buzinas de carros. Outra
coisa boa são os la-lalala-lalala do
refrão, que são viciantes e grudentos, assim como o “I like it, like it” (S&M
much?) do final.
*Make The World Move
(Feat. Cee Lo Green): a música tem completamente a cara do Cee
Lo, muito mais do que da Chistina, apesar de a participação dele ser mínima. Cheia
de mensagens otimistas (“turn up the
love, turn down the hate” é repetido várias vezes) e um ritmo dançante, agitado
e com uns toquinhos futuristas, a música daria um single diferente do que toca
nas rádios hoje em dia e parece que vai ser o próximo mesmo. A estrofe de "just think about it, anybody could
love somebody" é um dos pontos altos também. Outra coisa boa a
respeito da música: já tem performance feita no The Voice! Player aqui embaixo:
*Your Body: todo
mundo já ouviu e já tirou suas conclusões, mas acho engraçado ressaltar que
essa foi a primeira vez que Christina trabalhou com Max Martin e, desculpas
esfarrapadas de lado, é óbvio que ela escolheu o produtor escocês por ele
colocar em #1 praticamente todas as músicas que compõe. A única coisa que me
preocupava era o vídeo que ela faria pra música (o único defeito de Not Myself Tonight), mas, com a direção
da Melina, saiu um vídeo colorido, divertido e sem nenhum defeito apontável ou
preocupante. Se não fosse a preguiça de Christina em promover a música na TV e
em qualquer outro lugar, ela teria conseguido o #1 que sumiu há tanto tempo de
sua carreira.
*Let There Be Love: eu
diria que, se Your Body não conseguiu
chegar a #1, essa daqui é a última chance da Christina com uma música dance. Se,
ainda assim não conseguir, só resta esperança nas baladas mesmo. Também feita
por Shellback e Max Martin, com ajuda de Bonnie McKee na composição, a música é
tão comercial que chega a parecer com alguma coisa feita por David Guetta, só
que sem autotune, o que é perfeito, já que a última coisa que Christina
precisava era anular sua voz com efeitos para parecer com todos os outros robôs
da rádio. Uma bridge e um refrão grudentos, fáceis, com muito sintetizador e
uma explosão de vocais que fazem qualquer um balançar o pezinho (no mínimo), Let There Be Love tem potencial pra ser
o próximo hino gay pras pistas de dança.
Sing For Me: com o
primeiro verso mais grudento do álbum, a única coisa que estraga essa música é
a gritaria excessiva da segunda parte em diante. Se o tom mais baixo do início
permanecesse até o final, a música seria impecável. Mas, ao mesmo tempo em que
os berros incomodam, não faria sentido uma música sobre “se libertar através da
música” sem Xtina dando o máximo de si. Mesmo com esses defeitinhos, Sing For Me ainda é boa, mas não uma das
melhores do álbum.
*Blank Page: todo mundo já sabia que a parceria Sia e Christina
dava certo, inclusive as duas. Uma das ótimas escolhas que a cantora fez na
época do Bionic e resolveu manter foi o trabalho em conjunto com a produtora
australiana e essa balada não deixa nada a desejar em relação às outras que
elas fizeram juntas. Sustentada pelos vocais poderosos (que aqui não soam
exagerados) e um piano emocionante, a música tem tudo pra render uma
performance comovente. É interessante também ver como Blank Page seria um pedido de desculpas para You Lost Me, mas isso vai da interpretação de cada um (até alguém
confirmar isso, pelo menos).
Cease Fire: bandeira
branca levantada, a música é emocionante e bem produzida - depois desse CD,
acho que Christina, Alex Da Kid e Sia deviam fazer um casamento triplo para o
bem da carreira dela. Com uma voz que transmite perfeitamente o que ela está cantando,
o único problema é a alternação entre a fragilidade do refrão e a agressividade
das outras partes, que deixou tudo um pouco confuso. Questão de interpretação
ou não, parece que a lutadora de Army Of
Me não quer mais brigar e só quer “cessar fogo”.
Around The World:
animada e perfeita pra dança, com letras mais assanhadas e uma batida que, ao
mesmo tempo em que parece genérica, é nova para Christina e orbita ao redor da
sua potência vocal. Duas coisas para prestar atenção aqui: Christina citando
Brasil - sim, é algo ínfimo e ela cita vários outros lugares, mas já teve fã
surtando por conta disso - e a volta dos versos 'Voulez-vous coucher avec moi ce
soir'' de Lady Mermalade. Com uma vibe mais urbana do que dance, é
boa, mas não se compara a Let There Be
Love no quesito “hit para pista de dança”.
*Circles: pra descrever em uma palavra: épica. Não daria uma
ótima performance, nem um single rentável, mas a letra ousada é perfeita com o
ritmo divertido e despreocupado da música. Cheia de palavrões, é quase um funk
da MC Beyonce direcionado aos haters. Com a entonação sexy e atrevida de “spin, spin, spin around”, o
"motherfucker" final – que chega
a lembrar de Vanity, do Bionic -, os
gritinhos e todas as gargalhadas, essa é uma das preferidas e uma das
faixas-bônus que fazem valer a pena a compra de uma versão deluxe.
Best Of Me: uma
balada que começa frágil e no fundo do poço e dá a volta por cima enquanto a
música vai se desenvolvendo. Aqui também há um exagero nos vocais que quase
arruinaram a música, mas não é nada comparado a Sing For Me, então a música salva. Em quesito de relacionamentos,
essa pode ser definida como a faixa que consegue capturar melhor a vibe toda do
Lotus e essa coisa de rebirth blablabla. De qualquer maneira, não chega a ser
uma das que mais chama a atenção no CD.
*Just A Fool (Feat. Blake Shelton): ainda não decidi se é melhor
que Make The World Move, mas não é fácil escolher entre uma balada country
forte como essa e uma música feita pra “animar”; ainda assim, é incrível como a
voz de Christina "casa" muito bem com a de todos os jurados do The Voice.
Apesar de Blake não conseguir chegar ao mesmo nível, ele também não deixa a
desejar. Quando as vozes dos dois se juntam e se alteram em seguida, é
impossível não sentir o que os dois estão cantando. Assim como Kelly Clarkson,
Xtina é uma cantora pop que se sairia bem numa carreia country - privilégio de
quem canta bem.
*Light Up The Sky: uma
palavra: hino. Vocais usados na medida certa, produção excelente e letra
comovente. Uma das músicas de amor mais bonitas que eu já ouvi, não só da
Christina como de outros artistas.
Empty Words: mais uma
balada de superação, mas não necessariamente sobre relacionamentos. Chega a me
lembrar de Best Of Me, só que um
pouco mais fraca.
Shut Up: no mesmo
clima de Circles, Shut Up é divertida e com um tom de
black music. Dá até pra imaginar uma performance com um coro no fundo, uns
dançarinos em volta da Christina e ela fazendo caras e bocas enquanto canta.
Mais uma pra coleção das que saíram da manga do Alex Da Kid e que são ótimas,
além de perfeita para terminar o álbum.
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