Assim como em Lights,
Halcyon é um álbum difícil pra você se desapegar. Talvez seja a densidade
emocional que as letras apresentam, talvez seja a diversidade de gêneros
musicais dentro de um único CD (ou às vezes dentro de uma música só), mas o
fato é que esse é um álbum propício para várias situações e sentimentos, daí a
dificuldade de escutar outra coisa.
Halcyon
é um álbum sobre, acima de tudo, esperança e, ao mesmo tempo, superação. Ellie
agora tomou às rédeas da sua vida e das suas emoções, ou pelo menos é isso o
que ela tenta transparecer aqui. E mais, quando ela afirma que não tem medo de
cantar sobre suas emoções e de mostrar um lado sombrio dos seus sentimentos,
ela tá falando sério. Halcyon muitas vezes se refere à morte, sangue, perdas e
coisas “pesadas”, mas ao mesmo tempo em que Ellie cava esse poço emocional, é
como se ela fosse encontrando uma luz no final e aprendendo a lidar e aceitar
todos esses sentimentos, até superá-los e se sentir bem. O álbum traz um tipo
de dor e sofrimento que é bom em vários sentidos, e o melhor deles são as
lições de superação que algumas músicas passam, como se houvesse certo tipo de
respeito pelo momento de fossa num rompimento, mas mostrando que a hora de
"levantar" chega mais cedo ou mais tarde. Um detalhe que torna isso
tudo mais interessante é saber que as músicas começaram a ser escritas depois
de um rompimento (nem brinca, hein) e terminaram depois que ela já estava junta
e apaixonada pelo Skrillex, OU SEJA, tá tudo explicado.
Agora,
não espere encontrar só um tipo de música aqui, porque como eu disse, Ellie não
se encaixa num só estilo musical. Ao mesmo tempo em que Halcyon tem o antigo violãozinho
dela na maioria das faixas, ele também conta com elementos completamente
diferentes, como o dubstep, sintetizadores, pianos, toque de euro dance,
instrumentos que surpreendentemente lembram música gospel e outras coisas que
eu nem sei identificar. Mas uma coisa é certa em todas as músicas: o grande
atrativo é a voz de Goulding, graças à capacidade que ela tem em passar a
emoção das letras que canta de uma maneira que te faz sentir o mesmo,
capacidade essa que é fundamental na diferenciação entre um cantor bom e um
medíocre.
Infelizmente, Ellie ainda não pode ser
considerada uma artista tão mainstream assim, mas uma prova de que o sucesso dela vem crescendo de forma exponencial é a participação na soundtrack oficial
do último filme da série Twilight (amém que esse é o último), o que coloca a inglesa
num patamar onde bandas como Paramore, Muse e Florence and The Machine já
estiveram. A publicidade e visibilidade que ela ganhará com isso é um dos
fatores pra eu acreditar que no próximo álbum ela chamará ainda mais atenção,
transformando Ellie num grande nome em escala mundial e não só no Reino Unido
(sim, ela faz sucesso nos EUA, mas nem se compara ao sucesso que ela faz na
terra da rainha). Daqui pra frente é só questão de divulgação e pronto.
Tudo isso dito, review track by
track aqui embaixo, como de costume. As favoritas tão com um asterisco, mas já
vou avisando que gosto de todas e a maioria tá marcada porque não é fácil
escolher só uma ou duas:
- Don't Say A Word: uma perfeita faixa de
introdução pra te colocar no clima do resto do álbum. Com vocais bem
trabalhados, a música abre com a pergunta: “what if you never said anything?”
em meio a sons que te fazem imaginar uma atmosfera etérea, até que começam uns
tambores e, a partir daí, o ritmo só vai crescendo. Quando a última parte
começa, você sente o tom otimista das palavras dela, em versos como “I'm more alive than I've ever been” e “I've chosen you, but don't say a word”.
- My Blood: usando metáforas de morte pra
poder se referir a um relacionamento que sugou todas as suas energias, Ellie mistura
guitarras acústicas com elementos de dance, enquanto a música passa uma
mensagem de libertação, que fica evidente enquanto o refrão vai se repetindo e
versos como “I'm not dying but I breathe
now” evidenciam que, apesar do sofrimento todo, ela agora está 'livre'. Como
eu disse, um álbum sobre esperança e essa coisa toda.
- Anything Could Happen*: como primeiro
single, já lançado há um tempinho, nem preciso explicar muito. O vídeo em si já
mostra as ideias de Ellie quanto a anything could happen, e apesar de a maioria
das outras músicas terem sido escritas após um término doloroso, essa é a faixa
da ~~volta por cima~~ e, vou te falar, tá entre as melhores composições dela.
- Only You*: uma das mais felizes e
divertidas do álbum, cheia de declarações fortes que soam apaixonadas e
enraivecidas ao mesmo tempo. Fora os versos inteligentes, o que eu mais gostei
foram os "hms-hms" no fundo, diferente do resto do álbum e mostrando
onde foi parar a influência que ela buscou na Grimes. Consigo até ver o pessoal
de Glee estragando a música no futuro.
- Halcyon*: a primeira coisa que eu
pensei, foi: essa pode ser uma espécie de continuação pra Guns and Horses. Captura perfeitamente a vibe de superação e esperança
que eu tinha dito acima e que tá presente no álbum inteiro (nada mais natural
do que a faixa-título passar essa ideia, né?). Ao contrário da esperança
presente em Joy, onde ela aceita e
entra em termos de paz com o fim, aqui ela tem certeza de uma reconciliação e
de que o sentimento entre os dois ainda existe (“I know it’s not over, baby I worked this out for sure”), mesmo com
a falta de empenho do outro. Acompanhada pelo violão que vai te dizendo com a
mesma veracidade que “its gonna be better”
em cada repetição da frase.
- Figure 8**: se me pedissem pra escolher
uma faixa que mostrasse a influência do Skrillex no trabalho da Ellie, essa seria
a premiada. Com uso pesado de
sintetizadores e dubstep, a cantora coloca o violão de lado e mostra uma
necessidade incontrolável de ter a pessoa que ama, perseguindo o amor do outro
num loop infinito (pra quem, como eu, não sabia o que é figure 8, é o esse
símbolo aqui: ∞). Mesmo com frases amargas (“Lovers
hold on to everything/Others hold on to anything” ou “You promised forever and a day/And then you take it all away”), é
definitivamente uma das mais dançantes do álbum, perdendo só pra I Need Your Love. Top top das
preferidas também.
- Joy**: pelo início, você quase pergunta
se o nome da música é uma pegadinha do malandro, mas esse é um dos melhores exemplos
sobre o clima de ~~superação~~ do álbum. Com a voz terrivelmente emocional na
primeira parte, é como se ela mostrasse como se sentiu quando foi abandonada na
chuva, bem "far from joy". Incrível
como a voz muda completamente e se torna mais forte quando ela “figured out the joy is not in your arms”,
mesmo que ela sempre tenha um "coração dolorido". A prova final de
~~força~~ vem no último refrão, quando
backing vocals se juntam a ela e a batida fica mais alegre. Pra terminar bem,
Ellie solta uns gemidinhos que praticamente dizem: "tô feliz".
- Hanging On: fiz quando saiu, amigos. A única
diferença é que na versão do álbum (ao menos a standard), não tem o rap do Tinie
Tempah.
- Explosions*: um coral no início te
transporta pra dentro de uma igreja e, à medida que versos como "I've loved and I've lost" são
repetidos, você sente aquela tristeza na voz da Ellie te invadindo, até que a
música explode num piano e no grito dela, contando as “explosões do dia em que
você acorda precisando de alguém”. Essa
emoção toda se multiplica no último refrão, entonado com fragilidade e um pouco
de esperança, depois de metáforas que, de novo, sugerem a morte de alguém (“And as the flood moves in/And your body
starts to sink” e “I pray that you’ll
find peace of mind”), o que justificaria o coro de igreja no início, né? Sem
dúvidas é uma música sobre perdas, sejam elas definitivas (como a morte) ou
não, então não adianta esperar mensagem de “melhoras” aqui porque não tem (o
último verso é “it will never be the same”),
o que deixa essa como uma das melhores baladas do álbum.
- I Know You Care: também já fiz. Só queria
acrescentar algo que descobri
posteriormente: a produção e os backing vocals dessa faixa são assinados
pelo Justin Parker (o cara por trás de Video
Games e outras tantas da Laninha), então a depressão simples mas bem
orquestrada da música já tá justificada.
- Atlantis: por mais cafona que isso seja
(e eu sei que é muito), a voz de Ellie nessa música te faz imaginar uma
daquelas sereias mitológicas que encantavam os marinheiros com o canto. Soando
absurdamente delicada, ela se declara em versos vulneráveis e apaixonados,
deixando impossível que alguém resista a tanto amor jogado na cara assim. Nos
versos finais, ela admite a derrota contra o sentimento e se declara uma última
vez: “I'm defeated, I'm fooled, I can't
help it, you make my heart so helpless”.
- Dead In The Water*: toda a dor, o lado
obscuro e o conforto no sofrimento que ela diz ter sentido enquanto escrevia
Halcyon encontram seu ápice nessa música. Aqui não tem mensagem de superação,
não tem luz no fim do túnel, não tem como ela fugir do que sente. Com um piano
e uma voz que parece beirar o choro, as metáforas dispensam explicações e o
sentimento de abandono é inegável. A parte final é mais repleta de melancolia
do que as outras, se possível, com uns gritos similares aos de um animal
ferido. Com certeza essa é a música mais triste que eu já ouvi dela, e não só
desse álbum, mas do Lights também. Recomendo que escondam as cordas, facas e,
mais importante, os celulares da casa quando ouvirem.
- I Need Your Love (Feat. Calvin
Harris)**: é ótimo ver como dois artistas geniais, de meios diferentes,
conseguem fazer uma música que atenda às expectativas de suas respectivas bases
de fãs. Ao mesmo tempo em que você encontra aquelas batidas e aqueles
sintetizadores típicos do Calvin Harris, I
Need Your Love também tem não só um dedo, mas a mão inteira da Ellie Goulding
nas letras. Com versos que mostram uma saudade dominadora (“I've been a stranger ever since we fell apart/ Hold me in your arms
again”) o momento épico é o refrão, onde os versos são simples, mas
significativos (“I need your love”
[...] “When everything's wrong you make
it right”) equanto Calvin Harris te manda dançar, fazendo com que você mova
no mínimo o pezinho embaixo da cadeira.