terça-feira, 2 de outubro de 2012

DÁ O PLAY: No Doubt - Push and Shove



                Depois de quase 10 anos sem lançarem material novo, eis que o No Doubt resolve voltar das profundezas de onde se enfiou para lançar um disco há muito aguardado pelos fãs, seja aqueles que curtem a banda desde os anos 90 quando Gwen ainda usava aparelho e tinha o cabelo rosa, ou aqueles que simplesmente acham legal “a banda da mulherzinha que canta Hollaback Girl”.

                Se você esperar ouvir aquele tom agressivo nas músicas, próprio de hits como Ex-Grilfriend e It’s My Life, pode esquecer. O mais perto que a banda chega disso é em Stand And Deliver, mas mesmo assim a letra não é rancorosa, só é mais pesada na produção do que as outras. Pelo contrário, o No Doubt de 2012 é o mesmo de Don’t Speak, com um álbum cheio de baladas tristes, músicas assombradas pelo passado, declarações de amor e saudades e ainda uma melancolia conformada aqui e ali.


                Mas não se preocupe, porque o disco não é como o 21 da Adele, afogado na fossa. O bom e velho rock misturado com reggae aparece em grande parte das faixas, assim como nos singles já lançados até agora (Settle Down e Push and Shove), salvando a animação do disco e até dando uma chance para as pistas de dança. É como se o hiato do grupo tivesse servido para os integrantes repensarem suas relações e o álbum fosse a terapia de grupo, onde, mais uma vez, eles colocam o que os incomoda um no outro, ao mesmo tempo em que admitem o sentimento e as saudades que sentiram.

                Apesar de continuarem fieis ao seu som original, o No Doubt sabe que tem um mercado mais jovem que talvez não se interesse tanto por uma banda original dos anos 90 e, com isso, se esforçam (mas nem tanto) para trazer um frescor mais atual às músicas: as parcerias com o Major Lazer, as guitarras de One More Summer e o vídeo ~~descolado~~ de Settle Down são prova disso. Pra mim, essa é a prova de que a banda tem a capacidade de voltar e fazer sucesso ainda hoje, sem ficar atrelada a mesma fórmula de antigamente e fazer algo que só interesse aos fãs nostálgicos daquela época. Mas, infelizmente, essa geração viciada em autotune e sintetizadores não conseguiu reconhecer o valor do álbum (ou da banda) e nem o merchandising feito por Gwen e pela Lady Gaga (sim, ela é fã confessa da banda e chegou até a mandar, via twitter, os little monsters comprarem as músicas da banda) foram suficientes para que o No Doubt emplacasse um hit no top 10 da Billboard. Por sinal, Push and Shove chegou a vender menos que o Rock Steady, de 2001.


               No Doubt tinha tudo pra conseguir o comeback do ano, mas, com o pouco esforço para agradar o público jovem, a banda perdeu o lugar para a amiguinha de palco, P!nk (que, pela primeira vez na carreira, estreou um álbum em 1º lugar). Felizmente, a cantora é amiga do grupo e até cantou um dos hits com eles no iHeartRadio, I’m Just a Girl.  O vídeo da performance tá aqui embaixo, logo antes da review faixa por faixa. E eu só queria fechar isso aqui com um pedido: NO DOUBT PRA TOCAR NO ROCK IN RIO 2013! POR FAVOR, MEDINA, MAKE IT HAPPEN.



                - Settle Down: leiam neste link, amigos.

                - Looking Hot: a Gwen de Hollaback Girl dá um oizinho nessa faixa (que parece uma versão menos sexy de Hella Good) através de uma guitarra confiante e um verso provocativo logo de início: "go ahead and look at me, ‘cause that’s what I want". E ela continua se achando a cereja do bolo ao longo da música, com versos como  . É uma ótima música tanto para dançar quanto para ouvir fora das pistas de dança, o que eu acho uma ótima qualidade para um single. Como se isso não fosse o suficiente, ainda há um break de reaggae viciante depois do refrão. Detalhe pros gritinhos de oh oh oh que ficam mais legais ainda na versão acústica da música, mas, se você preferir a versão dançante, também há um remix ótimo feito pelo Jonas Quant na versão deluxe.

                - One More Summer: começa com uma guitarra que poderia muito bem ter sido produzida pelo Jamie XX, e essa melodia vai te acompanhando de fundo ao longo da música, até que surge a bateria do Adrian Young pra dar um up no ritmo.e você lembra que é uma balada deles. Uma balada que poderia muito bem ser mais devagar (a versão acústica já mostra isso de uma ótima maneira), mas cumpre de forma excelente o papel sendo mais agitada, enquanto Gwen Stefani implora por pelo menos mais um fim de semana com seu amado (ou a banda? Não sei dizer se há como separar isso nas músicas desse álbum) numa recaída: I'm your lover, you're my weakness; I dont think I can change, I can't stay away. Seria uma ótima escolha para single, também contando com uma versão acústica e outra remixada por um dos seus produtores, Jonas Quant. Nota aleatória: Gwen e a mania dela de se comparar a estações do ano. Brinks, não sei se é a intenção, mas além de ser uma música mais emotiva, me lembrei de Early Winter em alguns versos.

                - Push and Shove: também já fiz aqui, galere.

                - Easy: Gwen não quer e não precisa de uma voz 100% afinada e sempre no tom. E essa música explica exatamente o porquê:  aqui, quando a voz dela quebra, é como se fosse pra mostrar a vulnerabilidade e toda a emoção que ela está sentido em relação ao outro. Um pop rock leve, sobre querer reatar a relação, mas não dar o braço a torcer (o “I wanna be there” é como se ela estivesse quase chorando com vontade de voltar, mas mesmo assim sem fazer nada por orgulho). A versão acústica da música só serve pra mostrar como ela poderia ser muito mais depressiva do que já é. Confesso que me deu ate curiosidade de saber os detalhes por trás do hiato da banda.

                - Gravity: mais uma sobre declarações de amor, só que com o diferencial de ter um toque meio futurista na banda, com uns barulhos de laser que são meio trash mas divertidos ao mesmo tempo (sou apaixonado por esses barulhinhos desde Hot  As Ice da Neyde, confesso). Numa época onde o amor ainda não tinha deteriorado e os problemas não tinham aparecido, Gwen repete no refrão “we’re solLucky/still holding on”.

                - Undercover: vou falar de uma vez que essa nem me chamou muito a atenção. É um rockzinho leve sobre aquele tipo de relacionamento onde o outro se fecha num casulozinho e não deixa ninguém mais entrar, o que espanta a ponto de ela não saber se quer ir “lá” e descobrir (“ I want to climb in but I can’t do it/ I’m so scared of what I might find there”).

                - Undone: apesar de começar com uma guitarra animada, é só uma pegadinha do malandro, porque de animada a música não tem nada. Eu, que achava que o No Doubt nunca faria uma música mais depressiva do que Don't Speak, me surpreendi, porque essa aqui consegue chegar ao mesmo nível da outra. Também sobre término de relacionamentos, Gwen é acompanhada por um violão e um piano à medida que se declara e se mostra insegura quanto ao fim do relacionamento, implorando pra que o outro fique (“Don’t leave me behind/ This time I need you, nothing’s feeling right”).

                - Sparkle: com mais reggae que rock aqui, essa é uma das faixas mais calmas sem ser depressiva ao mesmo tempo, como Undone. Mais declarações e questionamentos sobre um relacionamento deteriorado, Gwen sabe que os dois nunca mais serão o mesmo. Atormentada pela relação que a marcou (“You were the one with the sparkle/ and you had it all”), mas ao mesmo tempo ciente de que aquele foi o amor que a mudou com um never ever gonna be the same repetitivo no refrão. Um trompete no meio da música dá um clima mais chapado ainda pra melodia geral. CUIDADO: há grandes chances de vc dormir enquanto escuta essa música.

                - Heaven: uma faixa levezinha, também toda trabalhada na declaração de amor, onde o diferencial são umas palminhas no fundo e a guitarra que lembra The XX de volta. A parte que começa com o “don’t have to get technical, you know that i want you” e uma espécie de sininho (desculpa, mas não consegui identificar o instrumento) tocando no fundo dão uma cara toda meiga e fofa à música.

                - Dreaming The Same Dream: já começa com uma pergunta: who taught you how to love? A última balada do disco (e última faixa também), só que dessa vez de ataque. Gwen aponta os defeitos e cobra as promessas feitas pelo outro (“how many times can a promise be broken?”), mergulhada na incerteza de que os dois estão na mesma vibe ou que ele até chegue a gostar dela (“are we on the same side?/when you play around with me are we dreaming the same drem?”). E não pense que ela vai se satisfazer com qualquer coisa, porque além de incerta ela está amargurada também (“your sweet persuasion is making me weak/ and that’s a comment not a compliment”); apesar do refrão fraquinho e da morbidez da música, essa é uma das minhas preferidas, aparentemente sem nenhum motivo relevante. Um solo de guitarra depois de um verso significativo, dá vez a um refrão entonado de forma mais emotiva e trabalhado no vocal da Gwen, o que tira um pouco a melodia da mesmice e fecha o álbum com chave de ouro.


P.S.: se você quiser ouvir o CD antes de baixar pra ver o que vale a pena, a banda divulgou um link do spotify que serve pra você ouvir o álbum inteiro e concorrer a uma guitarra assinada por eles. Corre lá!

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