segunda-feira, 23 de julho de 2012

CONTROLE REMOTO: HIt & Miss


                Hit and Miss é uma das primeiras séries originais do canal pago Sky Atlantic e é um daqueles especiais de só uma temporada, com 6 episódios. Já transmitida por completo em seu país de origem (Inglaterra), a série está sendo exibida este mês nos Estados Unidos, o que significa que agora que as pessoas começaram a prestar atenção de verdade.

(Mia retoca a make depois de matar um qualquer)

                O roteiro é um pouco complicado: Chloe Sevigny interpreta Mia, um transexual (antes da operação, o que significa que ela ainda tem pênis), que trabalha como assassina de aluguel (não, ela não é a vilã) e acabou de descobrir que é “pai” de um filho que ela nem sabia que teve com a ex e única namorada da vida. O problema é que além do filho que teve com Mia, a mulher deixou outras três crias sozinhas no mundo quando morreu e, obviamente, Mia se sente responsável por todo mundo. A partir daí, ela começa uma cruzada pra poder ser aceita na família e cuidar de todo mundo, enquanto tenta continuar com seu trabalhinho em dia e pagar o leite das crianças. De início, parece uma mistura de Dexter com Transamerica e algum drama familiar qualquer, mas a parada fica mais pesada que isso. Acho que não convém contar a história do início ao fim, pra quem for assistir mais tarde não ficar desanimado. Ao invés disso, acho melhor explicar o que me chamou a atenção na série e os pontos mais relevantes (óbvio que vai ter spoiler), daí vocês decidem se querem mesmo assistir ou não. Lá vai:
                Além do roteiro peculiar, a série também se aprofunda na psique do transexual e nessa questão da aceitação, tanto por parte dele próprio como por parte dos outros. Uma das cenas mais chocantes é quando Mia começa a dar socos no próprio pênis em frente ao espelho enquanto tenta se afirmar como mulher. Complexo que, mais tarde, descobrimos que foi criado pela família dela, quando ao visitar a mãe, Mia é espancada pelo irmão que a obriga a repetir para si mesma: “Sou um menino de verdade” (óbvio que esse não é o único motivo, mas ela parece se sentir bastante afetada com o que a família dela diz ou pensa). Um diálogo em que fica explícito essa afirmação como mulher é quando o peguete dela descobre que ela não é mulher “por completo” e começa a gritar que não é gay e não gosta de homens, daí ela fica revoltadíssima e grita de volta que ela não é homem e expulsa o boy de casa.

Mia (no centro) e o elenco infanto-juvenil

                Na questão de elenco e personagens há prós e contras fortíssimos. Um pró é o elenco mirim (e os personagens): são as crianças mais fofas que eu vejo desde que comecei a ver Mad Men. Tanto na questão de storyline quanto em atuação, Penny e Ryan roubam a cena quando aparecem na tela. Destaque pra cena em que Ryan, o único da família que é filho de sangue da Mia, quer ser igual ao “pai” e aparece na cozinha de salto alto, maquiagem e vestido. A cena toda é linda, mais pelo jeito com que as pessoas reagem e com que Mia explica as coisas pra ele do que por qualquer outro motivo.

Mia espanca o proprietário da fazenda
               Pra compensar a explosão de amor do elenco mirim, existe o núcleo adolescente da série, composto por Riley e Levi (não vou colocar nome de atores porque esse é o primeiro trabalho ‘importante’ deles e não vai fazer diferença mesmo). Levi não faz muita coisa na série, exceto imitar a irmã e xingar Mia de todos os nomes possíveis. Uma história que poderia ter se desenvolvido mais na série era o trabalho dele com o chefe da Mia, que poderia gerar um conflito dentro da casa e, como sempre, sobrar pra Mia. Mas também não estou reclamando porque o personagem é chato e, pra seis episódios, já teve história demais.  Histórias que, por sinal, teriam diminuído bastante se não existisse a anta da Riley. Resumidamente, ela é uma desaforada que xinga, expulsa e maltrata a Mia até depois de esta ter se livrado do corpo que a ingrata matou. Pois é, além de Riley ser revoltada ela também é burra: a menina mantém um relacionamento auto-destrutivo e emocionalmente masoquista com o dono da propriedade que mora (uma pessoa “muito simpática” que só sabe bater em todas as mulheres do elenco). Quando este descobre que ela está grávida, tenta estrangular a garota que dá um tiro na cabeça dele e depois deixa Mia cuidar do corpo. Esse é só um dos motivos que me fazem odiar a Riley. Mas não se preocupe, ao longo da minissérie existem vários outros; ela é daqueles personagens que são tão irritantes que te fazem querer entrar na tela e dar uma sacudida na pessoa até ela cair em si.

                Por último, a personagem principal, Mia. Chloe Sevigny consegue interpretar muito bem um transexual (indo contra tudo o que eu esperava dela); tá que às vezes ela esquece de fazer a voz masculina e tá que ela não chega ao nível da Felicty Huffman, mas ela convence. De qualquer maneira, não consigo vê-la interpretando um personagem medíocre, e isso é uma das coisas que Mia não é. Acostumada com uma vida solitária, ela é frágil e vulnerável, o que contrasta com a sua atitude em relação aos assassinatos que comete; sua amplitude social fica explícita quando ela pega o celular e só tem três números na agenda: o boyfriend, o chefe e o telefone da nova casa. A carência de Mia é tão grande que ela aceita a nova família e assume todos os problemas deles, fazendo papel de pai e mãe ao mesmo tempo (melhor que muita gente aí, diga-se de passagem). Mas Mia nem está na pior, já que ela consegue mudar a cabeça do namorado e fazer que ele aceite-a mesmo sem ainda estar operada, repensando o conceito de “mulher” que o cara tinha. Uma cena aleatória da personagem que também mostra a coisa da psique que eu já citei acima é quando ela olha o guarda-roupa da ex-namorada e coloca um vestido vermelho que pertencia à defunta, pra depois sair à caça no bar da cidade.

                No quesito problemas, a série tem uns pequenos furos de roteiro (ou falta dele) que me incomodaram. Como quando Mia incentiva a violência nas crianças – acho que isso poderia ter se desenvolvido um pouco mais. E uma coisa que ficou meio dispensável no final foi a esposa do cara que Riley mata – percebemos que ela também apanha dele, e que ela tem depressão pós-parto, mas nada chega a ser muito bem explicado. Não posso julgar muito porque, como disse, entendo esses cortes numa minissérie de seis episódios, mas acho que ainda seria interessante ter se aprofundado um pouco mais nessas histórias.
                Enfim, colocando tudo aí de cima na balança e adicionando a trilha sonora e o estilo impecável de Chloe durante os episódios (principalmente o último), a minissérie vale a pena ser vista. Aqui abaixo tem um trailer dessa bagunça toda pra você que ainda não decidiu se vale a pena ou não assistir. Dá o play e me diz o que achou.


0 comentários:

Postar um comentário